“Peruada é amizade. Tem disputa política, tem valores diferentes. Mas é importante que todos vocês tenham em mente: todos nós somos amigos”. Resumindo o espírito franciscano, a vice-diretora da Faculdade de Direito da USP, Ana Elisa Bechara, falou aos estudantes da instituição sobre a importância e o significado de participar da tradicional festa político-carnavalesca “Peruada”, que acontece dia 18 de outubro, a partir das 10h, com concentração em frente ao Largo de São Francisco.
A festa percorre os principais pontos da região central de São Paulo. Compuseram a mesa “Vitão” (Benedito Vitor Januário dos Santos), o Rei da Peruada, Mariana Belussi, presidente do Centro Acadêmico XI de Agosto, instituição organizadora do evento; o professor Otavio Pinto e Silva e Maria Cecília Asperti, doutora pela FDUSP. Todos falaram de suas experiências e do significado da passeata.
Vitão foi ovacionado, lembrou de algumas das passagens e chamou todos à participação. “Sempre foi muito emocionante. Curtam, divirtam-se”.” Ele relatou alguns pontos de parada no percurso das primeiras peruadas. “Quando saíam paravam em frente ao prédio (onde hoje é a prefeitura) e do Teatro Municipal, para explicar o motivo pelo qual estavam se manifestando”, disse.
Por sua vez, Otavio Pinto assinalou: “Eu entrei na Faculdade em 1983. Era calouro quando da volta da Peruada. Pra mim, era muito marcante. Chegavam os veteranos falando ‘vai ter uma manifestação político carnavalesca; e a gente ficava se perguntando, o que é isso, meu Deus”. Naquela semana da Peruada o então presidente da República baixou um decreta com medidas de emergência, significada que em Brasília estavam proibidas quaisquer manifestações na Capital Federal. Então a classe trabalhadora estava em polvorosa. Aí, não podemos fazer manifestação em Brasília, vamos ao Centro de São Paulo e os estudantes saíram com recados contra a ditadura, contra o presidente Figueiredo, contra o general Nilton Cruz, o ministro da defesa e saiu a cavalo dando chicotada em jornalistas. E isso foi um prato cheio para a gente questionar aqui, na Faculdade. É peruada é uma festa, mas é ela é política. É preciso que vocês pensem nas suas fantasias, fazendo a crítica política, com o objetivo de corrigir os maus costumes da política.
Por sua fala, Cecília relatou uma das passagens. E acrescentou: “A Peruada é um dia de amizade. Alguns colegas nossos dormiam aqui, faziam uma vigília de quinta para sexta, escondidos na faculdade. A professora Ana Elisa falou duas dicas, eu tenho uma terceira: ‘comam antes de vir’.
Por fim, o Centro Acadêmico XI de Agosto puxou uma trova franciscana e exibiu um vídeo em homenagem ao Vitão.