Na data de 09 de agosto de 2002 a Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo recebeu, como seu trigésimo oitavo Diretor, em seu mais nobre salão, Eduardo Cesar Silveira Vita Marchi, professor titular, em regime de dedicação integral à docência e pesquisa, do Departamento de Direito Civil.
Em cerimônia pela Congregação de Professores, o nobre professor foi recebido pelo ministro decano do Supremo Tribunal Federal, professor catedrático de Direito Civil José Carlos Moreira Alves. De já vasta carreira acadêmica, cumpre destacar algumas das experiências do agora Diretor que podem contribuir para a formação de "homens hábeis para reger os destinos da Nação". Cabe salientar para este fim, principalmente, seu contato com o ensino jurídico exterior que, com certeza, muito tem a agregar às Arcadas.
Um homem serrano
Nascido em 21 de julho de 1958, Eduardo Cesar Silveira Vita Marchi é originário da chamada "Cidade da Saúde", isto é, Serra Negra, também no Estado de São Paulo, no sopé ou contrafortes da Serra da Mantiqueira, a 140 quilômetros de distância da Capital, vizinha às cidades de Amparo e Águas de Lindóia.
Tanto a família do pai - Marchi -, quanto a da mãe - Silveira Vita -, são serranas. Os Marchi são originários da cidadezinha de Faedo, na Província de Trento, norte da Itália, quase divisa com a Áustria; no passado, tal região fez parte do chamado "Grande Tirol". O primeiro imigrante foi seu tataravô, Bortolo Marchi, que desembarcou em Santos em 1873, dando início à história da família entre nós.
O novo Diretor é filho do Dr. Wilson Marchi, falecido prematuramente (aos 45 anos de idade), por motivo de saúde, quando exercia o cargo de Delegado de Polícia na cidade de Espírito Santo do Pinhal (SP). O Dr. Wilson Marchi também bacharelou-se pela nossa Escola (turma de 1947), tendo ainda concluído, também na USP, o curso de Ciências Sociais.
Sua mãe foi a Profa. Daisy Silveira Vita Marchi, falecida em 1976, aos 53 anos de idade, filha do Dr. Nicolau da Rocha Vita, avô materno do novo Diretor, também bacharel por esta Faculdade (turma de 1912), que por mais de trinta anos foi o Promotor Público de Serra Negra.
Teve ainda, como irmã, a Dra. Eliane Silveira Vita Marchi, advogada, também desaparecida prematuramente, aos 27 anos de idade, por motivo de saúde.
O novo Diretor, após a morte do pai, aos 5 anos de idade, transferiu-se com sua mãe e irmã do interior para São Paulo, concluindo o curso primário, ginasial (com recebimento da medalha de prata, 2o lugar em notas), e colegial (com a obtenção da medalha de ouro, 1o lugar em notas) no Colégio "Mackenzie".
Superado o exame vestibular (no primeiro ano da Fuvest), feita a opção pela carreira jurídica em detrimento da de jogador de futebol, cursou a nossa Academia de 1977 a 1981 (turma Lídia Monteiro, funcionária da OAB morta em atentado a bomba; paraninfo da turma foi o Prof. Modesto Carvalhosa).
Já no ano seguinte, com uma bolsa de estudos, seguiu para a Itália, inscrito no curso de Doutorado em "Direito Romano e Direitos da Antigüidade" junto à Universidade de Roma I "La Sapienza". Lá permaneceu de 1982 a 1985, quando obteve o título de doutor (com tese sobre Constituição Tácita de Servidão Predial - A chamada 'Destinação do paterfamilias), título este revalidado pela Universidade de São Paulo. Foi discípulo do Prof. Mario Talamanca, Titular de "Istituzioni di Diritto Privato Romano" e, à época, Diretor da Faculdade de Direito da Universidade de Roma I.
Em 1988 foi o primeiro colocado em concurso de ingresso à carreira docente, junto ao Departamento de Direito Civil, da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. E, nesse mesmo ano, professor adjunto de Direito Romano, precisamente no mês de agosto.
O novo Diretor retornou à Europa, para um período longo, em 1992, como pesquisador-visitante junto ao Instituto "Leopold Wenger" da Faculdade de Direito da Universidade de Munique, Alemanha. Ali permaneceu até o início de 1994, tendo por orientador o Prof. Dieter Nörr, Diretor do citado instituto, apoiado por uma bolsa de pesquisa da prestigiosa Fundação Alexander von Humboldt, do Governo da Alemanha, tendo desenvolvido aprofundado estudo sobre os riscos pela perda fortuita da coisa nos contratos de compra e venda ("periculum rei venditae").
Da Academia
É, ainda, autor de diversas outras obras, como livros e artigos, todos carregando, como característica, a qualidade que só pode ser obtida através de dedicados estudos e pesquisas.
A grande experiência acadêmica do professor Eduardo Marchi, somada à sua dedicação sempre íntegra à Faculdade, já bastariam para que dele se pudesse esperar grande avanço no ensino do Largo de São Francisco.
Mas não foi pelo currículo ilustre que Diretor se fez destacar no dia de sua posse. Seu discurso, muito apropriado, mostrou a todos que lotavam o Salão Nobre não apenas o quanto poderia ser grandioso ser alçado à posição de Diretor da Academia, mas o quanto esta é grandiosa para o País. Com certeza foi em seu discurso uma excelente amostra da sistematização ensinada em seu Guia de Metodologia Jurídica (Teses, Monografias e Artigos), Lecce, Edizioni del Grifo, 2001, pp. 9-320, sua mais recente obra.
Sua posse foi bem ao seu gosto: uma aula. Não uma aula ordinária; foi sim um verdadeiro ministério sobre a importância da Faculdade de Direito para o País e, consequentemente, sobre a importância e as responsabilidades que um cargo como o de Diretor de tal instituição traz. Esperamos que a gestão do novo Diretor siga os mesmos caminhos que ele próprio vem trilhando em sua vida; bastando isso para que se torne histórica.