Estudar em detalhes as pinturas, os artistas que as produziram e, ao mesmo tempo, identificar os materiais presentes e os pigmentos que foram utilizados nos quadros da Faculdade de Direito da USP, estão entre os principais objetivos de pesquisa conjunta realizada pelo Museu da Faculdade de Direito da USP e o Instituto de Física da USP.
A equipe é formada pela professora Heloísa Barbuy, com os antigos alunos e colaboradores Igor Tostes Fuorezzi e Tatiane Gomes da Silva; e a docente Marcia Rizzutto, Instituto de Física, com as colaboradoras Julia Schenatto e Juliana Bittencourt Bovolenta.
Conforme explica Barbuy, trata-se de um trabalho de pesquisa do Museu da FDUSP, comissão presidida pela professora Ivette Senise Ferreira, sobre os retratos mais antigos que ficavam no Salão Nobre.
Dos quadros analisados nesta etapa, o “Justino de Andrade”, por exemplo, não foi encontrado registro de nenhuma outra obra grande do autor Jules Martin, que fez, inclusive, o projeto do primeiro Viaduto do Chá. “Ele é muito conhecido para quem estuda a cidade de São Paulo e tem muitos registros de pinturas, mas essa é a única a óleo dele que encontramos nessa proporção. As demais são gravuras, obras menores...”, diz.
Outra tela que foi feita análise é a de “Arouche Rendon”, primeiro diretor da Faculdade (1827/1833). A pintura é de 1911. “Não tinha nenhum retrato grande de Rendon e decidiram fazer esse”, acrescenta. A autoria é de Pietro Strina, italiano que passou algumas décadas em São Paulo.
Já o quadro de “Álvares de Azevedo” foi feito no início do século XX com base no Século XIX, autoria do pintor Graciliano Xavier. Nele consta a pasta do quinto ano. À época somente os alunos quintanistas podiam ter, e ele não chegou a fazer o quinto ano, pois morreu cedo, aos 20 anos. Porém, os pesquisadores assinalam que ele tinha uma distinção diferenciada e já era um estudante famoso em vida.
Alguns quadros já foram analisados e outros serão. Eles farão parte de livro, em trabalho coordenado pela professora Barbuy, com os retratos mais antigos que ficavam no Salão Nobre. O livro vai falar de cada obra, uma por uma. No total são 23 pinturas de grandes proporções, mais sete retratos menores, feitas entre 1859 e 1926.
Por fim, ao mesmo tempo que é feita pesquisa da história da obra, no sentido da trajetória, de como foi encomendada, as circunstâncias da produção, também é uma forma de fazer pesquisa própria de museus, bem como o estudo da obra como objeto material, inclusive da composição das cores, dentre outras.
Conforme explicam, ao longo de uma vida de mais de cem anos as obras passam por muitas restaurações e intervenções. “Um exame desses, às vezes, mostra por baixo da tela o desenho que o artista fez antes de começar a pintar, como se fosse um rascunho. Esses exames mostram isso. Também ajudam a identificar os pontos onde houve restaurações, intervenções etc.”.
O trabalho é importante para conhecer e melhor conservar a obra. No momento que a tela for para uma restauração, por exemplo, esse relatório ajuda muito o restaurador. Inclusive, com detalhes que aparecem por baixo da pintura mais original que poderão ser recuperadas.
