Diplomata proferiu palestra sobre “Mulheres Brasileiras na Diplomacia”, na Faculdade de Direito da USP, em mesa composta pela vice-diretora, Ana Elisa Bechara
Edição: Kaco Bovi
Uma aula sobre diplomacia, do ingresso aos desafios e os problemas que envolvem a profissão, bem como a falta de inclusão, com poucas mulheres e negros na profissão, entre tantas questões, a embaixadora Irene Vida Gala esteve na Faculdade de Direito da USP, para apresentar um pouco de suas experiências e da luta para tornar a profissão mais igualitária entre as(os) integrantes. Organizado pela extensão Laboratório Diplomático da FDUSP, o encontro reuniu no Auditório Rubino de Oliveira a vice-diretora da FDUSP, Ana Elisa Bechara, e as estudantes Sophia Bittencourte e Raquel Carminati, e levou um pouco de ensinamento para quem busca seguir a carreira diplomática.
Primeira presidente da Associação Mulheres Diplomatas no Brasil (instituição formada por mulheres diplomatas brasileiras, na ativa ou aposentadas, que tem como objetivo a criação de um Itamaraty mais representativo e diverso), Vida Gala relatou as dificuldades da diplomacia como carreira para as mulheres. De acordo com ela, o tema exige muita reflexão e engajamento.
“A gente falar sobre mulheres na carreira diplomática é muito pertinente, mas, na medida em que a gente levanta o tema, é porque ele já virou um tema”, disse, reforçando que quando era aluna, o tema sequer existia. Outro ponto destacado ressaltou que os avanços efetivos no âmbito da participação das mulheres e, sobretudo na diplomática, são a minguados passos. “Usar a palavra avanço já é ceder a uma linguagem masculina. Chamo atenção para que precisamos tomar cuidado com a linguagem que já mimetiza esse poder masculino. Quando entrei na carreira, há 40 anos, tínhamos 23% de mulheres na carreira diplomática; hoje temos 23%. Não sei onde está o avanço”, assinalou.
Por sua vez, Ana Elisa ressaltou a carreira da convidada, que é marcada por preocupações muito específicas, com especialização nas relações do Brasil com os países do Continente Africano. O que, para ela, moldou muito dos conteúdos e das pautas. “Isso é muito relevante para o mundo que vivemos hoje. É uma questão muito marcante para nós”, disse. lembrou que, no máximo 20% das embaixadas brasileiras são lideradas por mulheres. “É muito pouco. Uma carreira muito bonita, mas ainda muito tida como uma carreira masculina, como se esse não fosse um universo para as mulheres. Quando a gente fala de postos que são ocupados e que exigem uma mobilidade num universo que é patriarcal”, acrescentou.
Ana Elisa realçou que quando se fala de representação diplomática brasileira está se falando de um exercício de liderança, de uma função de poder. “E todo esse poder ainda é muito atrelado à figura masculina, quando a gente fala das embaixadas do Brasil e verifica que das 20 maiores apenas em uma, a de Washington (com Maria Luiza Ribeiro Viotti), tem uma mulher. Nas outras 19 são homens”, afirmou.
A embaixadora Irene adicionou que na questão das chefias de missão diplomata, é verdade que há mulheres, especialmente quando houve um momento que não se permitia sequer a entrada de mulheres. “O fato é que passou a ser possível; mas hoje, em pleno 2024, temos apenas uma mulher nas principais embaixadas”.”
Outro ponto em que relatou estás na chancelaria. “Continuamos com a nossa #mulherchanceler. O Brasil é o único País nas Américas que nunca teve uma mulher chanceler”, informou
Para ela, não são as mulheres que têm de reclamar a participação; mas sim é o conjunto da sociedade que tem de reconhecer o mérito e a diferença da presença feminina. “Se continuarmos fazendo as mesmas coisas com as mesmas pessoas, vamos ter os mesmos resultados. Quando a gente vai pensar em termos de política internacional, a gente vê que não estamos caminhando nesse momento para bons prognósticos”.” A embaixadora acrescentou que, passados 80 anos de uma paz frágil (depois da segunda guerra), ainda estamos caminhando para um período que o multilateralismo está em profunda crise. “O que a gente está vendo agora é a possibilidade de um conflito de larga escala. Mais do que isso, a gente está vendo um recrudescimento da construção dos aparatos militares, com gastos militares em alta”.”
Assista palestra completa no YouTube. Reverbere, dissemine: https://youtu.be/vJ93ZT5QPsc
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