Trabalhar de forma gratuita para as redes sociais, onde as pessoas acabam por entregar seus dados pessoais, a permitir que os algoritmos saibam de seus desejos e os usem, é apenas parte do alerta feito no livro “Superindústria do imaginário”, de Eugênio Bucci, professor da Escola de Comunicações e Artes da USP. Em suas quase 450 páginas a publicação navega pela apropriação exercida pelo capitalismo, por meio da tecnologia, de quase tudo que é visível.
Bucci é o convidado desta segunda-feira (25/10), às 19h00, do Núcleo de Estudos da Transparência Administrativa e da Comunicação de Interesse Público (NETACIP), vinculado ao Departamento de Direito do Estado da Faculdade de Direito da USP, para explicar um pouco desse dinamismo que tomou conta do mundo.
No bate-papo com o professor Marcos Augusto Perez, Direito Administrativo da FDUSP, irá analisar, por exemplo, a exploração do olhar e da extração dos dados pessoais, por via das mídias digitais, combustível e extensão dessa propagação.
O contraponto esbarra, entretanto, com a Lei de Proteção de Dados Pessoais, matéria a ser explorada por Perez. Afinal, qual veio se estende pelas redes? O de proteger os dados humanos ou de entregar à exploração capitalista?
O negócio dos gigantes da internet, assinala, além de “pegar” dados pessoais, extrai o olhar de seus usuários. E gera um novo tipo de valor a ser apropriado pelas grandes corporações.
Por este canal, diz Bucci, as plataformas descobriram uma forma de exploração que nem os mais cruéis capitães da revolução industrial seriam capazes de imaginar. “Numa plataforma social, que se diz gratuita, as pessoas estão pensando que se divertem naquele momento, mas estão ali depositando seus conteúdos.”
No capítulo “O olhar trabalha para o capital”, por exemplo, o docente assinala que o capitalismo deixou de lado os objetos físicos e virou um narrador, um contador de histórias. “O capital se descobriu linguagem e se deu bem na sua nova encarnação”, escreve.
Para além, Bucci, ao contrário de tratar os “navegantes midiáticos” de usuários, prefere usar o termo “trabalhadores”. Ou seja, ao postar uma foto ou rolar o feed de uma rede social, as pessoas estão trabalhando, sem saber disso e sem serem remuneradas.
E conforme destaca, em sua apresentação, o livro “Superindústria do imaginário” busca “explicar a mudança no curso a partir da qual a comunicação desenvolveu sua capacidade particular de fabricar valor em escala superindustrial e passou a dominar nada menos que o centro do capitalismo”.
Transmissão pelo Canal do YouTube do DES FDUSP.