Edição: Kaco Bovi I Foto: César Viegas
“Mesmo que a reação seja rápida e dura, inclusive no ponto de vista judicial, não acredito que nos próximos meses haverá uma trégua, uma tranquilidade. Voltarão à carga, fustigarão de maneira abusada e ilícita a estabilidade das instituições e do novo governo, de maneira que teremos de ter muito cuidado”
Ao realçar a posição da Faculdade da Universidade de São Paulo diante das atrocidades cometidas contra a Democracia no domingo (08/01), o diretor da FDUSP, professor Celso Fernandes Campilongo, destacou que foram atentados de enorme gravidade contra o povo Brasileiro.
Em entrevista aos jornalistas Milton Jung e Cássia Godoy, na Rádio CBN, classificou a questão como de enorme gravidade, asseverou a necessidade de encontrar mecanismos no sentido de retomar o diálogo, para quebrar a polarização, e enfatizou a relevância da rápida reação diante dos fatos.
O diretor abordou ainda a leitura da “Carta às Brasileiras e aos Brasileiros”, no Pátio das Arcadas da SanFran, em 11 de agosto. “Aquela Carta, que viabilizou mais de um milhão de assinaturas, tinha caráter preventivo. Isso porque, no ano anterior, o (então) presidente Bolsonaro andou falando coisas inconvenientes e antidemocráticas, instigando coisas como essas que vimos agora, no domingo (08)”, disse.
Recordou ainda que a ideia de 11 de agosto era fortalecer a prevenção para que as instigações do ex-presidente não se repetissem no 7 de setembro de 2022. E acabou funcionando bem, o (então) presidente não teve a postura com a mesma virulência e agressividade que tinha assumido em 2021.
“De lá para cá, apesar de uma disputa eleitoral bastante acirrada, a coisa foi conduzida com a diplomação dos vencedores, com a posse do novo presidente. Transcorreu de uma maneira previsível até então”.
Movimento anunciado
Sobre a questão de dizerem que seria um movimento anunciado, que todo mundo sabia disse, afirmou não imaginar que o vandalismo teria tamanha gravidade e que muitas pessoas foram pegas de surpresa. Até o presidente da República estava no interior de São Paulo, acompanhando os problemas causados pela chuva, e foi surpreendido com aquelas cenas pavorosas.
“Achei que fosse até fake News, sinceramente”, acrescentou Campilongo. “Apesar de todo o clima, não imaginava tanta ousadia, tanta desfaçatez e tanta criminalidade como o que ocorreu.”.
Outro ponto de destaque foi a rápida reação da sociedade civil e das instituições, com notas de repúdio e chamadas para atos em Defesa da Democracia, como os ocorridos no Salão Nobre da FDUSP, na Avenida Paulista em locais e outras instituições do Brasil e do Exteriior.
De acordo com Campilongo, o que se viu no domingo (08) pode ser resumido como atos antissistêmicos, anti-institucionais. “A gente usa o chavão antidemocráticos, um carimbo correto, mas que tem uma característica populista muito peculiar. Com relação a isso, a gente tem de ter muita atenção”.
Para Campilongo, uma democracia se pauta pela pluralidade de corrente de ideias, pela diversidade de posturas, e o que este populismo parece retratar é uma postura supostamente de homogeneidade. Usa-se esse tipo de retórica da homogeneidade para tratar de uma sociedade que é necessariamente plural. As pessoas têm visão diferentes a respeito do que seja o futuro do Brasil, como devem se organizar as instituições e essa pluralidade é da essência da democracia. Outra coisa: tivemos ataques não apenas ao Judiciário, mas também ao Congresso Nacional e ao Palácio do Planalto.
Para as instituições representativas, como um todo, não é o caso do Judiciário, mas é o caso do Executivo e do Legislativo. “Ao invés de se respeitar a representatividade que é compatível com essa pluralidade, o que esses arruaceiros imaginam é que é possível uma identidade completa entre o povo e o estado soberano. Outra ideia incompatível com a democracia representativa”, diz.
"Patriota", "Nacionalista"
De outro lado, esses populistas também se julgam os donos da verdade, como se fossem o absolutismo moral. “Ou você pensa dessa maneira ou você não é patriota, não é nacionalista, não é brasileiro. Quando, na verdade, a Democracia é incompatível com esse absolutismo moral. Nós temos é um relativismo, um multiculturalismo. Tudo isso, esses atos populistas, ilegais, criminosos, atacam o núcleo da Democracia. A sociedade precisa reagir a isso”.
No bate-papo com os jornalistas, Capilongo acentuou a necessidade de o Brasil se manter vigilante. “Mesmo que a reação seja rápida e dura (como aconteceu), inclusive no ponto de vista judicial, não acredito que nos próximos meses haverá uma trégua, uma tranquilidade. Voltarão à carga, fustigarão de maneira abusada e ilícita a estabilidade das instituições e do novo governo, de maneira que teremos de ter muito cuidado.”
Entre os passos a serem observados, destacou em primeiro lugar que essas pessoas devem ser responsabilizadas por suas ações (de quem foi detido), com todas as garantias jurídicas da ampla defesa e do processo legal, mas com o rigor das leis, pois essas pessoas cometeram atos de enorme gravidade.
Sobre o ato do dia 09/01, no Salão Nobre, observou a fala da presidente da OAB São Paulo, Patrícia Vanzolini: “’Isso (o vandalimo) não é ato somente contra a Democracia, contra o Estado de Direito. É muito pior: isto foi um ato contra o povo brasileiro’. Ela está corretíssima, foi um ataque generalizado às instituições”.
Ouça íntegra da entrevista: https://bit.ly/3XFjUSn
Confira pelo Canal do YouTube: https://bit.ly/3CH3Lnj
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