Um sentimento de renovação norteou a Vigília Cívica em Memória dos 60 Anos do Golpe Militar (04/04), na Sala dos Estudantes da Faculdade de Direito da USP. O evento organizado pelo Centro Acadêmico XI de Agosto restituiu o cargo de presidente a João Miguel, destituído no golpe; e homenageou os antigos alunos Arno Preis e João Notário da Silva Rocha, perseguidos e mortos pelo regime.
No encontro, as falas foram do diretor da FDUSP, Celso Campilongo, Mariana Belussi, presidente do XI de Agosto; Belisário dos Santos Jr., da Comissão Arns, que atuou na defesa de presos e perseguidos políticos e integrou a Comissão de Mortos e Desaparecidos; Paulo Pereira, presidente da Associação dos Antigos Alunos; Luna Zarattini, vereadora. Julia Wong, secretária-geral da atual gestão do XI, conduziu os trabalhos. Na abertura, o Coral XI de Agosto, sob a regência do maestro Eduardo Fernandes, tece repertório com músicas da resistência.
“Faculdade de Direito sempre teve uma relação muito forte contra o cerceamento de direitos”, disse Campilongo. O dirigente lembrou aos presentes, especialmente aos mais novos e que vivem numa democracia os transtornos do golpe. “Uma ditadura significa a negação de uma justificativa para resiliência; sinônimo de falta de legitimidade, associado a outras grande característica que é a ausência de liberdade”, acrescentou.
Por sua vez, Belisário ressaltou que o momento é de “descomemorar” o golpe de 64. E assinalou que todos estavam diante das fotos de dois companheiros (Preis e João Leonardo), para lembrar que existiu um golpe no Brasil, para tentar substituir a ordem vigente por uma nova Ordem, na condução de um processo que chamou de domesticação, no que os golpistas chamavam de doutrina de segurança nacional, uma guerra psicológica adversa.
Observou ainda que todas as grandes lutas do Brasil passaram pela SanFran, uma vez que era simbólico que a Faculdade se incorporasse a essas lutas. “A luta que agora vejo, está empenhado pela memória. É fundamental a luta pela verdade e pela memória das vítimas”.” Por fim, asseverou que uma das armas é sempre restabelecer o direito à verdade, o direito à memória.
Paulo Henrique relatou o papel do XI de Agosto nas grandes lutas. “A hipótese de que o CA XI se calasse nos 60 anos do golpe, que assolou o Brasil, é uma hipótese aterradora”. Ele lembrou que João Miguel estava na primeira lista de prisões do golpe militar. “Vários alunos que foram presos aqui, foram presos sem nenhum apoio. E esses alunos que tiveram coragem de defender os presos políticos num regime que sequer tinha habeas corpus, foram corajosos à insanidade. Se um golpe se apresentar de novo no Brasil, não nos acomodemos. A sociedade vai precisar de vocês.”
Para a vereadora Luna Zarattini falar dos 60 anos do golpe não é apenas preciso; é necessário. “Me considero neta da geração de 68, por conta do meu avô (Ricardo Zarattini). Foi preso, torturado, exilado”, assinalou. Falou ainda da nova tentativa de golpe, em janeiro de 2023. “É importante ficarmos atentos, para que nunca mais aconteça”.
Na mesma direção, Mariana avaliou que a faculdade resistiu, ocupando as Arcadas e, constantemente, tem promovido um conjunto de movimentos para estar vivo o debate sobre a questão. “É preciso entender qual foi o papel desses estudantes na luta contra a ditadura; muitos, sequer sabe-se o nome”, relatou, acrescentando a importância de se fazer esse resgate.
“Esse movimento é importante para reconhecer o significado desses estudantes, que lutaram pela democracia”, disse.
Na homenagem a João Miguel, Francisco Villela, diretor político-social do XI de Agosto, afirmou: “Os franciscanos que sentiram a heroica pancada de 64 mantiveram viva a coragem do território livre, sua história, sua memória e sua grandeza”. De acordo com ele, restaurar o mandato (de João Miguel), “representa para a FDUSP o país que estamos construindo para nosso presente e nosso futuro”.
Assista transmissão completa: https://www.instagram.com/faculdade_de_direito_da_usp
Edição: Kaco Bovi
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