Durante cinco dias palestrantes buscaram expor a definição de racismo como um problema social e não como mero legado histórico
Edição: Kaco Bovi
O tema “Igualdade e equidade, interseccionalidades e feminismo negro” encerrou (09/05) o Curso Letramento Racial: teoria crítica sobre raça e racismo à brasileira, coordenado pela professora Eunice Prudente, Direitos Humanos da Faculdade de Direito da USP. Durante cinco dias foram intensos os debates e exposições para buscar entender e disseminar o letramento como um conjunto de práticas de leitura, com critérios, bem como a definição de racismo como um problema social e não como mero legado histórico.
O trabalho coletivo reuniu especialistas, doutores, doutorandos, mestrandos, estudantes de graduação, formando uma comissão para a elaboração dos trabalhos.
“O entendimento que as identidades raciais precisam ser aprendidas em busca de um resultado de práticas sociais”, disse Eunice Prudente, na abertura do painel. “Também no entendimento de letramento, a posse de gramática racial e um vocabulário que facilite uma discussão sobre raça, racismo e antirracismo”, acrescentou.
Foram palestrantes desse último bloco, a professora Thula Rafaela Pires Oliveira (PUC-Rio), com extenso trabalho no enfrentamento do racismo e sobre a importância na formação da nação; Isadora Brandão, que instituiu na Defensoria Pública do Estado de São Paulo a coordenadoria que acolhe e atende os vitimados pela discriminação racial; Mayara Amorim (PUC-Campinas), autora do livro “Políticas Públicas Antirracista”; e Simone Rick, com trabalho sobre desenvolvimento socioambiental de mulheres negras. A mesa foi composta por Vanessa Canto, coorganizadora do evento, que fez a mediação das discussões.
Sobre interseccionalidade, conceito que descreve como diferentes fatores, como raça e gênero interagem e se cruzam para criar experiências de desigualdade e privilégio, Thula ressaltou: “Não dá para a gente dizer que aplica a interseccionalidade se a gente começa atender a pessoa que foi vítima de violência e não pergunto a ela coisas básicas na construção do caso”, disse Thula. De acordo com ela é importante saber o que aconteceu, tentando despertar algumas perguntas que talvez algumas julgadoras(es) não façam para perceber o quanto a racismo foi determinante naquele caso específico que está sendo analisado.
Isadora Brandão também falou acerca das interseccionalidade, a partir da pesquisa para o doutorado. “A gente tem toda uma tradição de lutas na América Latina que não pode ser esquecida”, disse. Entre os exemplos citou a interseccionalidade a partir de alguns campos de atuação e assinalou que na política se dá a partir do momento em que grupos afetados por múltiplos fatores de discriminação ficam invisibilizados das práticas de direitos humanos, e de institucionais de proteção de direitos.
Adiante relatou: “se estivéssemos fazendo uma análise interseccional teríamos a possibilidade de ver que, quando as mulheres negras rompem a barreira do silêncio, quando denuncia esse tipo de violação de gênero, elas estão contribuindo para a ampliação do nosso horizonte emancipatório em termos antirracistas”.
Mayara assinalou ser importante situar, no debate, o que está se propondo a fazer. Ela pontuou a fala dela na perspectiva de aspectos econômicos e socioeconômicos para chagar a ideia de uma desigualdade social. “Se a gente se propõe a pensar em diversos eixos de subordinação, implica pensar em outras formas de produções não só de conhecimentos, mas de construção de desenhos institucionais de políticas públicas que se pretendam ser bem-intencionadas”, disse.
Simone analisou a necessidade de mudanças em um País de desenvolvimento tardio, dependente e marcado pela tripla mazela: racismo, sexismo e classismo.
As transmissões estão disponíveis no canal do Youtube da FDUSP.
Assista, discuta, reverbere: https://www.youtube.com/watch?v=zM2XmjekyaM
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