A diversidade nas carreiras jurídicas pautou a segunda mesa de debates sobre equidade na Semana de Recepção aos Calouros, no Salão Nobre da Faculdade de Direito da USP. Todas as áreas apresentadas – Advocacia, Magistratura, Defensoria Pública, Ministério Público, Diplomacia e Academia – foram uníssonas em dizer que faltam oportunidades para mulheres, pretos, pardos, LGBTQ+, dentre outros membros da sociedade, que são minorizados diariamente em suas carreiras.
As palestrantes e os palestrantes relataram a necessidade de buscar meios para ampliar a diversidade. Ou seja, apesar de ter ocorrido algumas melhoras nos últimos anos, a paridade não existe.
A desembargadora Silvia Rocha ressaltou que mulheres não entravam na Magistratura paulista, até 1980. “Entrei em 1985, eram oito juízas em um universo de 1.200 juízes”, disse. O Poder Judiciário do Estado de São Paulo foi o último Tribunal a aprovar o ingresso de mulheres. A partir de então as mulheres começaram a ingressar muito lentamente, questionavam a competência delas”, acrescentou a magistrada que, agora, a primeira mulher a presidir a banca de comissão organizadora para Concurso de Ingresso na Magistratura.
Rocha ressaltou que nas mãos dos juízes estão todos os litígios. “A paz na vida dos indivíduos e a paz social dependem das decisões judiciais. A ordem e a liberdade, também. Então é essa a importância da carreira”.
Ela observou que o acesso à magistratura hoje é mais difícil para os negros. “Não porque eles não possam entrar. O acesso obedece às cotas, um número de 20% das vagas.”
Viviane Rios Balbino falou da carreira diplomática, como um papel importante na construção de um país mais democrático. Além de uma exposição sobre a carreira, destacou que as mulheres representam apenas 23% da Diplomacia brasileira, cujo papel é importante na construção de um país mais democrático. “Em quase 20 anos, a representação da mulher subiu muito pouco”. Ao citar pesquisa que levariam mais de 40 anos para chegar a uma paridade na carreira, ressaltou: “As mulheres estão vivas agora, elas não podem ficar esperando”.
A promotora Cristiane Hilal, por sua vez, destacou uma grande maioria de homens brancos no Ministério Público e observou a necessidade de trabalhar muito no MP para tentar “reverter essa condição colonial”.
Paula Forgioni, que conduziu os trabalhos assinalou que entre os pontos que parecem cruciais estão os concursos públicos.
Isadora Brandão, da Defensoria Pública, acentuou que há uma paridade, com 51% de mulheres. Porém, 75% de mulheres brancas. “Do ponto de vista racial ainda é majoritariamente branca. E se olharmos com relação aos cargos, vamos observar que os quadros de poder são majoritariamente de homens”, disse. Sobre a violência cometidas contra mulheres negras, assinalou aumento de 54%.
Robson de Oliveira destacou que quando entrou em um dos principais escritórios de advocacia do país, foi por muito tempo o único negro, dentre os 700 colaboradores à época. Para ele, iniciativas como o Projeto Incluir Direito são essenciais para ajudar a mudar essa triste realidade.
A professora Susana Henriques da Costa, por sua vez, usou como exemplo o próprio Salão Nobre, onde os bustos são todos masculinos. “A naturalização da ausência de diferença é muito evidente. Só existem homens. E, para além, a raça é apagada”, afirmou.
Confira a transmissão completa no canal do Instagram da Faculdade: @faculdadade_de_direito_da_usp.