Cerimônia, no Salão Nobre, foi acompanhada pelos diretores Celso Campilongo e Ana Elisa Bechara, professores, personalidades e juristas
Edição: Kaco Bovi
O tempo correu, parou, se estendeu, andou no Salão Nobre da Faculdade de Direito da USP (20/08) que, ao sabor da voz da antropóloga e historiadora Lilia Schwartz (homenageada pela Academia de Letras da FDUSP com o título de sua mais nova integrante) palestrou sobre “Desafios para a Escrita no Século XXI”.
Professores, estudantes, admiradores, e tantas outras pessoas, se puseram a ouvir. Na mesa, os diretores da FDUSP Celso Campilongo e Ana Elisa Bechara, os diretores da Academia Vitor Basso, Alexandre Stevanato, Felipe Lima Delfino, e o presidente do Instituto de História e Geografia de São Paulo, João Tomas do Amaral.
As falas foram acompanhadas por professores, como Celso Lafer, Ana Maria Nusdeo, Sheila Neder Cerezzetti, Fernando Facury Scaff, Otavio Pinto e Silva, José Marcelo Proença, entre outros; e personalidades, como o antigo aluno e ministro aposentado do Superior Tribunal de Justiça, Sidnei Benetti, que presidiu a Academia.
“Vocês são o nosso futuro e nossa esperança. Vejo muitos escritores reunidos, com muitas possibilidades. Evoco aqui a lição do imperador chinês que teve tempo de espera para que fosse desenhado o mais lindo caranguejo (história citada durante sua exposição). Lembro, também, do exemplo do escriba que demorou ao menos 50 anos para atender ao pedido do imperador. Torço muito para que vocês façam o mais lindo caranguejo”, disse Lilia.
A homenageada contou um pouco da trajetória familiar, desde a vinda para o Brasil de seus avós (ambos historiadores) que tiveram de sair da Europa (fugidos da guerra) e deixaram para trás uma série de propriedades, mas trouxeram os livros. “Isso é um exemplo de vida para mim. Eu conservo esses livros, sou fiel herdeira deles e as atitudes dos meus avós me fizeram pensar na importância fundamental do livro como resistência, como esperança e como forma de utopia”, disse.
Entre os temas que tratou, a homenageada pontuou o tempo como essencial para a vida. Descreveu passagens. Uma delas em livro do autor Ítalo Calvino: “Seis proposta para o próximo milênio”. De acordo com ela, “nesse século tão veloz e que tem a capacidade de tornar obsoleto objetos que ainda não são, o autor conta nesse capítulo um exemplo oposto à velocidade que imaginamos”.
A história versa sobre um imperador da China que tinha um grande desejo de que os escribas e historiadores de sua época fossem capazes de descrever (com palavras e imagens) o mais belo caranguejo. Chamou um grande sábio de seu império para fazer a tarefa, que pediu vários memorialistas e desenhistas e propôs o período de sete anos para cumprir a missão. Passado o tempo, o imperador o chamou e ele pediu prorrogação de tempo, por outras várias vezes. Até que – por fim (muito tempo depois) –, o escriba entra na sala (já idoso). ‘Agora é possível ver o resultado de seu trabalho?’, perguntou o Imperador. Ele pegou uma pena e, em apenas cinco segundos, fez o que estava sendo pedido. Resumo da história: nós gerenciamos o tempo.
“Essa história nos demonstra o processo de escrita. Muitas vezes, quando vocês veem um livro acabado, é só esse caranguejo. Porque a beleza do processo de escrita está no processo, como disse o grande escritor Guimaraes Rosa. É no processo que nós botamos significado”, adicionou.
Falou ainda sobre o livro em lançamento “Imagens da Branquitude” e acrescentou a importância dos símbolos e das imagens, usando como exemplo o Imperador Dom Pedro II. “Há quem diga que ele foi o primeiro marqueteiro do Brasil”.”
Por fim, observou aos presentes: “Vocês são o nosso futuro e a nossa esperança. Vejo muitos escritores reunidos, aqui, muitas possibilidades em todas e todos vocês. Torço muito para que façam o mais belo caranguejo que puderem. Nós, escritores, somos assim: pessoas de esperança. Não fossemos, não apostaríamos em livros, que resistem, como meus avós: mesmo em tempos de guerra, de autoritarismo, deixaram tudo para trás, menos a família, os amigos, as amigas e os livros”.”
Por sua fala, o diretor Celso Campilongo ressaltou o trabalho desempenhado pela Academia de Letras da FDUSP, com vigor extraordinário no âmbito das letras e das artes. “Têm sido frequentes as manifestações artísticas, variadas, em diversos âmbitos. Uma efervescência cultural enriquecedora”, assinalou. Citou a ajuda de Sidnei Benetti, parceiro da Academia, na construção dessa história. E exaltou a Imortal da Academia Brasileira de Letras Lilia Schwartz, recém-nomeada para a Academia de Letras da FDUSP.
João Tomas contou parte da história do Instituto e sua relação próxima com a FDUSP, desde a fundação, nas dependências da então Faculdade de Direito da Cidade de São Paulo (ainda não estava integrada à USP).
O Acadêmico Alexandre Stevenato fez o discurso de saudação em homenagem à nova acadêmica. Secretário de Relações Institucional da instituição, ele resumiu o currículo da homenageada. “Em síntese, uma trajetória magnífica. Sua obra é caracterizada por ser vasta e abrangente, destacando-se por sua profundidade na análise das relações raciais, da identidade nacional e da memória coletiva.
O presidente da Academia, Vitor Basso, ressaltou que a instituição tem a finalidade de inspirar pessoas para que não desistam, nunca. “Sabemos que no Brasil é um pouco desestimulante quando vamos falar de arte e de cultura. Há limitações financeiras, de incentivo e até mesmo sociais. Mas, como o próprio nome, a arte é imortal. A escrita é imortal. Temos de insistir, para não deixar nunca a arte morrer”, afirmou.
Ao final, formou-se uma enorme fila para pedir autógrafo à homenageada.
A transmissão pode ser vista em https://www.youtube.com/live/k43Z7ApNcYQ?si=FqtVtBuXEvQIej4h
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