Em conferência na Faculdade de Direito da USP, ex-presidente fez um apelo para que instituição se encarregue de zelar pelo Estado de Direito
Edição: Kaco Bovi
Ninguém melhor para contar os bastidores do processo de redemocratização do Brasil, após o fim do regime ditatorial de 1965, do que o ex-presidente da República José Sarney. Eleito vice na chapa de Tancredo Neves, que morreu antes de assumir, Sarney passou ao comando do País em 15 de março de 1985. Uma transição ainda difícil, uma vez que o então presidente militar não queria passar a faixa presidencial.
Um pouco dessa história e a confissão de amor pela Faculdade de Direito da USP, instituição pela qual disse gostaria de ter se formado (sua alma mater foi a Universidade Federal do Maranhão), foram contados por ele em conferência no Auditório Rubino de Oliveira durante o evento “40 anos de democracia no Brasil”.
A mesa foi composta pelos reitores da USP Carlos Gilberto Carlotti Jr. e Maria Arminda Arruda; pelos diretores da FDUSP Celso Campilongo e Ana Elisa Bechara; pelo professor e Luiz Curi, titular da Cátedra Paschoal Senise; Rui Caminha, presidente da Associação dos Antigos Alunos da SanFran; e Guilherme Afif Domingos, secretário especial de Projetos Estratégicos de São Paulo.
Ao abrir as falas, Caminha relatou: “A história da Faculdade se confunde com a história do Brasil”.
Curi lembrou que Sarney era um presidente atento à cultura, à ciência e à tecnologia. “É uma honra para a sociedade paulista recebê-lo aqui”, disse.
Campilongo relatou o fato de ter autoridades de todos os poderes, estudantes e professores, com várias gerações, reforçando o significado do evento. “É uma honra receber pela primeira vez o presidente Sarney. A Faculdade de Direito da USP tem uma tradição importante na luta pela democracia que se compõe com a história de Sarney”.” Assinalou a capacidade de articulação política e de conversa com todos os setores da sociedade brasileira do ex-presidente. E acrescentou: “Vivemos uma quadra de polarização política que tem feito muito mal ao Brasil, prejudicado o desenvolvimento na Nacional. O exemplo dado por Sarney deve ser seguido para que a democracia continue imperando”.”
Maria Arminda desatacou a importância do evento, porque simboliza a questão fundamental que tem sido enfrentada nos últimos anos que é a democracia, a liberdade e os direito para todas as pessoas.
Afif observou que sempre esteve ao lado de Sarney. Militamos no mesmo momento porque fui constituinte. “Enquanto cuidávamos do retorno da democracia política, me dediquei a construção do conceito da democracia econômica. Uma grande parceria com o presidente Sarney, foi ele que abriu as portas do Congresso”.”
Carlotti reforçou a grande oportunidade termos parte da história contada nas Arcadas por quem fez parte diretamente dela. Rememorou o compromisso de luta pela democracia da FDUSP, citando como exemplo o recente o 11 de agosto de 2022, momento que se punha em dúvida a democracia. “Foi um momento muito importante que essa casa se pôs à frente do processo democrático”.”
Em sua conferência, Sarney disse que a Faculdade de Direito do Largo São Francisco é uma catedral do saber e orgulho para todos os brasileiros porque ela representa na história do Brasil, para a cultura brasileira. “Por aqui passaram os maiores políticos deste país. Treze dos presidentes da República foram alunos dessa Faculdade de Direito”, exemplificou.
Falou da importância da biblioteca que completou 200 anos em 24 de abril último, por onde passou antes de seguir para a conferência e pode ver os livros raros que nela têm. “Livros são pioneiros no desenvolvimento cultural de qualquer país e de qualquer sociedade. Eu senti, andando por esses corredores, na minha memória de intelectual, de estudioso da história do Brasil. Vi que por aqui passaram Rui Barbosa, Castro Alves, Fagundes Varela, todos os grandes políticos do Brasil”.” Citou ainda Castro Alves e outros nomes.
“Nessa comemoração dos 40 anos de democracia do Brasil quero fazer um apelo à faculdade de Direito. Que ela se encarregue também de, no futuro, zelar pela democracia, porque ela sempre precisa de ser zelada. Temos de estar sempre vigilantes porque a democracia vive em constante ataque”, disse.
Contou boa parte dos bastidores para aceitar ser vice-presidente na chapa de Tancredo. “Enfrentamos uma grande resistência do regime naquela época. Enfrentamos, inclusive, um movimento militar para impedir a transição democrática. Figueiredo não gostava de mim e ele disse que não me passaria nem a faixa, nem o governo”.” Conforme relatou, Tancredo era um homem que sempre defendeu atitudes pacíficas. Citou como exemplo Juscelino Kubitschek, que tinha sido ameaçado de não tomar posse e Tancredo costurou para que conseguisse. “Muitos presidentes eram marcados para ser depostos. Eu mesmo era. Porque eu não tinha partido político, eu não tinha apoio dos grandes segmentos da sociedade brasileira, eu era um vice-presidente do Maranhão um estado pequeno. Então, tudo preparava para que naquele momento com a resistência militar, mas eu tive de dar uma de Juscelino e costurar a minha transição democrática. Assegurar a presença da democracia. A bandeira era a transição democrática e foi essa bandeira que também nos trouxe essa manhã essa manhã para cá”.
Adiante ponderou sobre discussão de quem iria assumir: ele ou Ulysses Guimaraes. Também relatou fatos do atual sistema eleitoral e de tantos outros pontos da política brasileira.
Por fim, explanou: “Eu quero manifestar minha gratidão pelo convite. Evidentemente, esta cerimônia ficará na minha memória pelo valor que eu dou a ela e a esta Casa. E reitero a todos que devemos manter sempre a nossa defesa da democracia, o peso da liberdade eterna vigilância e da democracia'.
Entre as autoridades presentes, os ex-ministros Celso Lafer, Nelson Jobim, José Henrique Paim; professores da FDUSP e de outras Faculdades.
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