Foram anos de “namoro” entre os dirigentes da Faculdade de Direito da USP com o prédio histórico Conde Álvares Penteado, o Palácio do Comércio, no Largo de São Francisco, onde (recentemente) funcionava a Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap), com algumas tentativas para que o Edifício, erguido em 1907, fosse integrado à SanFran. Até que um almoço entre os professores Fernando Facury Scaff e Gilberto Bercovici reacendeu o desejo.
Ambos seguiram até o local, para uma visita não anunciada. E, apesar de não terem conseguido entrar para conhecer o local por inteiro, a tentativa se transformou em um esforço concentrado com rodadas de conversas com autoridades e o diretor da FDUSP, professor Celso Campilongo, para verificar as possibilidades de aquisição do Prédio pela USP. “Não pudemos passar da catraca, mas deu para ver que o prédio é bem maior do que parece por fora. Estava bem conservado, bem cuidado”, ressaltou Bercovici.
O fato de terem ido ao local fez com que fossem em busca da concretização desse antigo sonho. A perseverança deu resultado. Após décadas de desejo e tentativas frustradas, a SanFran finalmente conquistou o Palácio do Comércio. A transferência foi formalizada em 2024 por meio de um decreto de desapropriação assinado pelo governador de São Paulo, Tarcício de Freitas.
Conforme destaca matéria no Jornal da USP, a conquista, mais do que uma simples ampliação de espaço, representa um passo significativo no caminho da revitalização da região central da cidade. Dois pontos ressaltados por Campilongo. “Além de ajudar a revitalizar o Centro, ainda trará uma ampliação na vida cultural muito importante para o Centro que sempre foi glorioso”, acredita.
Facury Scaff explicou à reportagem que a busca pelo prédio é parte de uma longa história. O apetite pelo palácio erguido em 1907 (a construção tombada em 1992 foi sede da Fecap) e de fundação anterior ao próprio endereço da FD, que é de 1934, tem raízes em décadas de tentativas frustradas.
De acordo com ele, diretores anteriores, como o professor Junqueira de Azevedo, perseguiram a aquisição do imóvel por muitos anos. “Consta que o professor Junqueira, há muito tempo, buscava esse prédio”, diz ele, recordando também o interesse mais recente dos professores Floriano de Azevedo Marques Neto e José Rogério Cruz e Tucci. A curiosidade é que, mesmo com todo esse histórico de desejo pelo imóvel, o docente admite: “Eu mesmo não conhecia o prédio, nunca tinha entrado”.
Após a conversas, ambos (Bercovici e Facury) iniciaram a busca pelo prédio que se transformou em uma espécie de cruzada pessoal e decidiram investigar a situação jurídica do imóvel. Ao descobrir que o prédio tinha uma cláusula de inalienabilidade – uma condição jurídica que impede que um bem seja vendido, doado ou transferido a terceiros, não se intimidaram: “E o que eu disse ao Edison Simoni [atual reitor da Fecap]: Esse não é um problema, sou advogado, isso eu resolvo. A gente desapropria”, afirma Facury.
Ao contrário do que se esperava para um imbróglio em uma das zonas mais disputadas do País, o processo, que envolveu contatos diretos com secretários de estado, avançou de forma admiravelmente rápida. Facury Scaff lembra, com uma ponta de surpresa, que “foram 90 dias, um processo muito rápido”. E o apoio de Guilherme Afif Domingos, secretário estadual de Projetos Estratégicos, foi decisivo. Afif não só conhecia bem o prédio, como tinha uma ligação pessoal com o Largo de São Francisco: “Ele conhecia a Fecap, pois passava por lá rotineiramente com o pai nos últimos 50 anos”.
A conexão foi o ponto de virada, já que a desapropriação passou a ser vista como parte de um esforço mais amplo para revitalizar o Centro de São Paulo. O professor também esclareceu que a desapropriação foi paga com recursos do caixa da Universidade, custando cerca de R$ 18 milhões.
Para a Faculdade de Direito, o prédio de 4 mil metros quadrados e mais de 20 salas de aula resolve um problema de falta de espaço, especialmente para os cursos de Pós-Graduação e permanência dos estudantes. Sobre isso, na Rádio USP, Campilongo reforçou: “Hoje, 50% dos alunos da USP são cotistas e muitos passam o dia inteiro na faculdade. Termos esse espaço dará muito mais conforto”.
O diretor acredita que a integração do edifício projetado pelo arquiteto sueco Carlos Ekman ao campus da Faculdade também abre possibilidades para a criação de hotéis-residência, que seriam usados na habitação de estudantes, além de fortalecer a vida noturna na região com cursos no período da noite e maior circulação de pessoas. Dessa forma, o prédio da Fecap se tornará não só um espaço acadêmico, mas também um símbolo de renovação para o Largo de São Francisco, ampliando o papel histórico da faculdade no centro da cidade.
O prédio marca a paisagem secular do Centro Histórico e fará parte da formação de inúmeros jovens no futuro imediato. O que antes era apenas um sonho acalentado por gerações de professores, agora se concretizou. “Foi um sonho de muitos professores, e agora está realizado, com um custo baixíssimo e uma integração com o Largo, unindo os dois prédios e ampliando o calçadão”, arremata Facury Scaff.
Reportagem de Denis Pacheco, originalmente pulicada no Jornal da USP.
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