“A Semana de 22 produziu uma espécie de catequese. A partir da projeção de seus outros. Mulheres, negras, indígenas, estavam na representação dos modernistas, mas não estavam presentes”. A fala, da professora Lilia Schwarcz, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, retrata um pouco do que foi a Semana de Arte Moderna, dentro de seu tema tratado “Quem estava e quem faltou na semana modernista de São Paulo?”, durante encontro no Auditório Ruy Barbosa Nogueira, da Faculdade de Direito da USP. Com Gênese Andrade, professora da FAAP, e o diretor da FDUSP, professor Celso Campilongo, aconteceu a mesa de debates do evento “A Semana de 1922 e a Faculdade de Direito do Largo de São Francisco”, composto por diversas atividades.
Ao abrir os trabalhos, Campilongo ressaltou a experiência das convidadas. “Professoras que são referências nesse debate”, disse. Ao contexto, apresentou a obra “Modernismos, de 1922 a 2022”, livro lançado recentemente, organizado por Gênese, que tem entre os colaboradores, Schwarcz. “Não teríamos maiores referências, de maior qualidade e experiência no campo de análise do modernismo brasileiro”, acentuou.
Em “Ausências, lacunas e hipóteses em torno dos Modernismos”, Gênese ressaltou ser bastante inquietante não termos dados mais concretos de como a Semana se desenvolveu, bem como documentos sobre os modernistas. Dessa ausência, citou um poema de Oswald de Andrade, tido como o primeiro poema futurista, que escreveu antes de Pauliceia Desvairava e que se perdeu. “Também não temos dados concretos sobre a preparação da Semana. Se diz que foi durante uma exposição de Di Cavalvanti. Graça Aranha estava em São Paulo. Menotti del Picchia, Mário e Oswad se encontra com Cavalcanti e, a partir daí, começa a se pensar na Semana, que acabou se concretizando em fevereiro”, acrescentou.
Porém, adverte, não se sabe bem em que momento se teve a ideia, nem o tempo de preparação para a realização do evento que aconteceu no Teatro Municipal. “Para piorar, não há registro fotográfico da Semana, nem vídeo, o que era possível pois o cinema já começava a se instalar”, disse. A foto que circula como sendo dos participantes da semana, na verdade não é. Foi feita em homenagem ao Paulo Prado, e estavam lá vários dos modernistas.
Lilia acrescentou que os participantes da Semana eram pessoas de seu tempo, mas poderiam também fazer coisas diferentes no seu tempo. Entre as passagens citou Lima Barreto, que no Jornal do Commercio tinha a coluna “Não as matem”. “Ele era um crítico do movimento feminista, pois dizia que era um feminismo de mulheres brancas”, afirmou.
A docente realçou o momento de subordinação e da violência que era cometida contra as mulheres. Por acréscimo relatou o que chamou de memória seletiva. “Vamos pensar na memória de 1922. Ela transformou as mulheres em coadjuvantes”, assinalou.
Dentre os mitos, destacou que a Semana de 22 não tinha como meta o engrandecimento que ganhou a partir da década de 40. Serviria como uma espécie de reação ao centenário da Independência e ao então presidente Epitácio Pessoa, que sofria uma séria crise em seu governo.
Entre os presentes, a professora Nina Ranieri, presidente da Comissão de Graduação da FDUSP.
Confira a transmissão completa do evento no Canal do YouTube da FDUSP
