Professores, especialistas e autoridades apresentaram índices, problemas e as marcas do fracasso de um país que alfabetiza sua população
Edição: Kaco Bovi
Apesar de os índices de analfabetismo terem diminuído no Brasil no último ano – Em 2024, 59,2% das crianças nas redes públicas de ensino foram alfabetizadas na idade certa, um aumento em relação aos 56% registrados em 2023 – o índice ainda preocupa tanto na questão da educação infantil quanto nas outras etapas. Para debater o tema, o Salão Nobre da Faculdade de Direito da USP recebeu (21/07) VII Congresso Brasileiro de Alfabetização. O evento reuniu professores, especialistas e autoridades em torno da questão.
A mesa de abertura foi composta pelo representante do Ministério da Educação, Alexsandro do Nascimento Santos, diretor de políticas e diretrizes da Educação Integral Básica do MEC; a reitora da Universidade Federal de São Paulo, Raiane Assumpção, o diretor da FDUSP, Celso Campilongo; a presidente da Associação Brasileira de Alfabetização, Gabriela Medeiros Nogueira; a vice-diretora da Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Unifesp, Edna Martins; a diretora da Faculdade de Educação da USP, Carlota Boto; e o vice- presidente da ABALF, Fernando Rodrigues de Oliveira.
A luta pelo direito de aprender a ler e a escrever com sentido, com prazer e com liberdade de expressão. Cada vez mais se alfabetizada e participem da sociedade com autonomia.
Os trabalhos foram abertos por Oliveira. Agradeceu todas a instituições participantes e ressaltou: “hoje, aqui, somos 755 inscrito, sendo 690 mulheres, 65 homens, com representantes de 25 estados brasileiros, mais o Distrito Federal. Temos a apresentação nos próximos dias de 444 comunicações científicas que versam sobre práticas e pesquisas em alfabetização. “É simbólico podermos nos reunir para debater o tema da educação, no atual contexto que vivemos”.”
Ele lembrou que foi na FDUSP onde se formaram grandes nomes da educação brasileira e uma geração de novos intelectuais interessados no campo educacional. “Na figura de Antonio da Silva Jardim, ex-aluno dessa faculdade, tomaram a educação como tema para construção de um país moderno, livre e promissor”, acrescentou.
Por sua fala, Carlota Boto observou que o debate sobre a alfabetização surgiu atrelado ao debate sobre a expansão da escola. De acordo com ela, foi neste período em que se considerou politicamente necessária a expansão da escolarização. “Passou a se pensar na temática da alfabetização, ampliando o debate que vamos travar aqui”.”
Edna Martins ressaltou que a alfabetização é um direito humano, uma porta de entrada para a cidadania e, ao mesmo tempo, reveladora das desigualdades de gênero e de classe. “Os dados mais recentes demonstram que o Brasil ainda tem cerca de 9,1 milhões de pessoas analfabetas com 15 anos ou mais, o que representa 5,3% da população nessa faixa-etária é o menor índice da series história desde 2016, mas é um número que nos convoca à ação’’.”
Celso Campilongo lembrou que a cidade de São Paulo foi criada a partir de um triângulo (Largos São Francisco e São Bento e o Pátio do Colégio) e que já existia a biblioteca no Convento dos Franciscanos. “Além da biblioteca funcionavam escolas aqui, no Pátio do Colégio e no Largo de São Bento. A história da cidade de São Paulo é ligada a escolarização e alfabetização”, disse, citando alguns símbolos dessa história presentes na FDUSP.
Gabriela Nogueira assinalou que a alfabetização é um tema de enorme relevância no País e que ainda carrega a marca de um expressivo número de analfabetos. “Cada professor, professora que esteve (ou está) ligada diretamente com o ensino, da leitura e da escrita, sabe bem o quanto é difícil alfabetizar”, realçou.
Raiane Assumpção agradeceu o trabalho conjunto das entidades parceiras nessa missão. “Quando aprendemos a ler é um leque que se abre. Outras perspectivas de vida se abrem a partir do mundo da escrita e da leitura. Um outro universo que passa a ser referência”.”
Alexsandro Santos ratificou que o Congresso é um dos mais importantes na direção da alfabetização. “A luta pela garantia desse direito (de alfabetização) continua firme”, disse. lembrou de quando chegou ao Ministério da Educação havia uma guerra institucional. Agradeceu à ABALF, pela participação nesse debate importante, à Faculdade de Direito, pela contribuição com o pensamento social e a defesa da soberania e o estado de Direito. “A Faculdade sempre se posicionou do lado certo da sociedade. Nunca foi apenas uma escola de Direito. Sempre foi mais do que isso”.
Para ele, falar de alfabetização no Brasil é extremamente importante e continua muito urgente. “Não é porque a gente teve algum avanço que a gente pode se acomodar, dizer que a tarefa está cumprida”, disse, acrescentando que o Brasil ainda luta pela alfabetização como um direito. “Só é um direito quando chega para todo mundo, quando toda e qualquer criança desse país tenha certeza que ao entrar em uma escola de ensino fundamental será alfabetizada”, reforçou.
Quando as crianças não se alfabetizam no início de seu processo de escolarização, essas crianças acumulam perdas de aprendizagem que comprometem muito a continuidade de sua trajetória escolar”.” Nessa questão ratificou que fica uma marca de fracasso que compromete sua autoestima, que produz estigmas na sala de aula. “Por isso, a gente luta para que aconteça a alfabetização no tempo certo”.”
As transmissões podem ser conferidas em
https://www.youtube.com/@abalfabetizacao
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