Edição: Kaco Bovi
Há 100 anos, em 25 de março de 1923, uma multidão tomou conta do Largo de São Francisco para homenagear um dos principais juristas brasileiros. A homenagem a Rui Barbosa, morto havia 25 dias, seguiu em cortejo pelas ruas Florêncio de Abreu, São Bento, Libero Badaró, até atingir o Largo. Na legenda da foto que registrou o ato, a demonstração de carinho e orgulho pelo jurista que fez da sua história o mudar do Brasil: “Aspecto do Largo de São Francisco por ocasião da grande festa cívica realizada em homenagem ao ilustre Rui Barbosa, cuja morte encheu a Pátria de pesado luto”.
Ali estava lançado o marco do tempo. No elegante Salão Nobre da Faculdade de Direito da USP, perante a Congregação foram oferecidos o medalhão em bronze, trabalho do escultor Ettore Ximenes, com uma dedicatória em nome da colônia italiana, e o quadro a óleo, do artista Henrique Távola. Mais tarde, o medalhão foi instado no Pátio dos Calouros; e a pintura na Sala da Diretoria.
Morto em 1º de março de 1923, Rui Barbosa foi um homem além de seu tempo. Deixou marcos históricos para serem contados com orgulho por aqueles que seguiram a linha de defesa da democracia e da sociedade brasileira.
De seu legado, a “Oração aos Moços”, discurso de paraninfo em sua formatura, na turma de 1920 da Faculdade de Direito, ressaltou o sentido de liberdade e de respeito às leis, requisitos essenciais para a manutenção das nações.
“O papel de Rui na feitura da Constituição de 1891 é parte dos seus grandes serviços à Nação. A ele se deve o federalismo, que contrapôs à monarquia unitária e centralizadora”, escreveu Celso Lafer (O Estado de S.Paulo, 19.03.2023), professor emérito da FDUSP, por ocasião do centenário de morte.
Esse é um dos diversos atos serem atribuídos ao jurista brasileiro. A extensão da história conta que se destacou como advogado, político, diplomata, escritor, filólogo, jornalista, tradutor, orador... A ele foi encarregada a missão de ser autor da Constituição da Primeira República juntamente com Prudente de Moraes. Da mesma forma que dele partiu a atuação na defesas do abolicionismo e na promoção dos direitos e garantias individuais.
Foi também o primeiro ministro da Fazenda do regime instaurado em novembro de 1889.
Do autor do quadro, inaugurado há 100 anos na FDUSP, Henrique Távola (c.1882-1952) foi um artista ativo em São Paulo desde o início do século XX até o auge de sua carreira nos anos 1920. Sua especialidade eram os retratos, que fazia em diferentes técnicas: pinturas a óleo (como é o caso do retrato doado à Faculdade pela colônia síria), pastel, bico de pena e crayon. Também fez retratos fotográficos.
Sobre o autor do medalhão, depois de trabalhar na Itália, Estados Unidos e Rússia, Ximenes desembarcou no Brasil em 1919 para realizar o Monumento à Independência, onde permaneceu até 1926. Neste período esculpiu diversas obras em homenagem a personagens da elite brasileira. Destaque para os trabalhos sobre Rui Barbosa (também é autor de busto e monumento do jurista), da escultura do arquiteto Francisco de Paula Ramos de Azevedo e do presidente da província de São Paulo, Altino Arantes.