As preocupações já existentes e a necessidade de mais cuidados a serem tomados com a saúde dos moradores de rua devem ser ampliadas neste período de pandemia de covid-19. Estudo feito pela Clínica de Direitos Humanos Luiz Gama, da Faculdade de Direito da USP, coordenada pelos professores Calixto Salomão Filho (DCO-FDUSP) e Guilherme Assis de Almeida (DFD-FDUSP), em conjunto com o Laboratório Espaço Público e Direito à Cidade (LabCidade), da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, identificou o dobro de mortes causadas pelo coronavírus do que o registrado pela prefeitura.
O levantamento, feito com base em dados do projeto Recovida, que vem atuando na pesquisa sobre a mortalidade durante a pandemia, verificou que 96 óbitos da população em situação de rua, de março de 2020 a maio de 2021, quase o dobro do constatado pelo Consultório na Rua.
Matéria no Jornal “Folha de S.Paulo” relata que os dados da Prefeitura, confirmam, até novembro, 49 mortes de pessoas em situação de rua. No caso das mortes encontradas no levantamento, 35 eram de pessoas que efetivamente moravam na rua, em situação de calçada, e 61 acolhidas em serviços municipais.
O levantamento também identificou o perfil dos mortos. A maioria é de homens (77%), percentual que cresce entre os que vivem efetivamente na rua (94,29%). "Todos os óbitos identificados são de adultos e idosos, 78,13% deles acima dos 50 anos de idade", informa texto publicado pelos pesquisadores.
Assinam o texto pela Clínica de Direitos Humanos Luiz Gama e pelo LabCidade, Aluízio Marino, Laura Salatino, Kelseny Medeiros, Caroline Brisola, José Vicente de Oliveira Kaspreski, Aline Sayuri Cawamura, Guilherme Eufrasio Pinheiro, Verônica Brito Sepúlveda Martines.
O levantamento adverte que a pandemia ampliou a crise habitacional existente, levando mais pessoas para às ruas. “Infelizmente, não sabemos quantos vivem atualmente nessa situação, já que os dados do último Censo realizado em 2019, período anterior à pandemia, já estão defasados e a nova pesquisa realizada no fim do ano passado ainda não foi divulgada pela prefeitura”, relatam.
O estudo também identificou que a metade das pessoas que morreram foram identificadas como pretos ou pardos; 44,79%, brancos; 5,21% tiveram a cor da pele ignorada no preenchimento do questionário. Se for considerado apenas a categoria “situação de calçada”, a presença de negros é maior (54,29%).
Sobre o nível de escolaridade, 6,19% nunca estudou, 35,05% tem o ensino fundamental, 9,28% cursou o ensino médio e 4,12% fez curso superior. Porém, 45,36% dois entrevistados ignoraram esse campo.
O levantamento diz ainda que a prevalência de comorbidades e fatores de risco são elementos importantes. Ou seja, 75% apresentavam ao menos uma condição debilitante. Dentre esses, 27,08% possuíam alguma doença cardiovascular, 17,71% tinham problemas respiratórios e 12,5% eram fumantes. Ao analisarmos somente o grupo “situação de calçada”, 17,14% possuía tuberculose e 25,71% tinha alguma dependência de álcool e/ou drogas.
