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Cotas, diversidade, pluralismo, pertencimento e defesa da democracia marcam formatura festiva da Turma 191

Edição: Kaco Bovi / Foto: Rudi Silva / UOON Plataforma Digital

 

O sentido de pertencimento, dos desafios superados e do pioneirismo marcaram a colação de grau festiva da Turma 191 da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Os primeiros formandos com alunas e alunos advindos das mais diversas classes sociais (a primeira com percentual de reservas de cotas) marcaram a história da instituição. Pioneirismo demonstrado na recepção no lotado Auditório Celso Furtado do Anhembi.

“Vocês são o exemplo vivo de que podemos construir sociedade muito melhor e de que o Direito pode ser ferramenta decisiva desse processo”, enfatizou o diretor da FDUSP, professor Celso Fernandes Campilongo. A seu lado, na formação da mesa-diretora, as professoras e os professores Ana Elisa Liberatore Bechara, Eunice Prudente, Cláudio Luiz Bueno de Godoy, Mariângela Gama Magalhães Gomes; e o funcionário homenageado Silvio César Apolinário de Oliveira.

Nas falas, os relatados dos enfrentamentos desses cinco anos marcados por diversos acontecimentos. “Foram anos bem-vividos e inesquecíveis”, acrescentou Campilongo, durante o esfuziante entusiasmo dos estudantes. Para uma turma predestinada, como realçou, coube a responsabilidade de carregar a diversidade para a mais tradicional e mais antiga Academia de Direito do País.

Diversidade de ideias, de pensamentos, de inclusão, como destacado pelos professores da Casa. Afinal, foram pioneiras do sistema de cotas. Dos mais de 315 formandos, 75 são cotistas, sendo destes 35 pela reserva de vagas para PPIs.

“Tiveram recepção maravilhosa em 2018, quando chegaram à Faculdade. Fizeram festas fantásticas no Largo. Viveram dois anos de aulas presenciais e convívio caloroso, até a chegada da pandemia. Enfrentaram aquele difícil período com galhardia”, acrescentou o diretor. “Retornaram exuberantes e entusiasmados para o último ano do curso, em 2022. Assistiram, no ano passado, à Faculdade liderar enorme movimento nacional em defesa do Estado Democrático de Direito, com a leitura da ‘Carta às Brasileiras e aos Brasileiros’, do Pátio das Arcadas para todo o País”, disse. Assim, relatou os saberes, sabores e amizades construídas nas aulas, no pátio, nos debates vividos na Sala dos Estudantes e de tantos outros convívios. “Vocês são da primeira turma formada depois da retomada das aulas presenciais; depois de a Faculdade ser agraciada, de forma inédita no Brasil, com nota máxima conferida pelos órgãos responsáveis pelo ensino superior (a Capes)”, adicionou.

Lembrou, ao longo destes anos, das melhorias na infraestrutura do tradicional e histórico Prédio das Arcadas, com a reforma das salas, dentre tantas outras conquistas. E marcou sua fala destacando as Deusas-irmãs que tutelavam o espírito franciscano protegiam (e protegem) os alunos desde o ingresso nas Arcadas até depois de formados. “Afinal, vocês nunca deixarão de pertencer a essa academia. Não são ex. São, a partir de agora, antigos alunos”, enfatizou.

Paraninfa do período noturno, Mariângela Magalhães acentuou que ser bacharel pela Faculdade de Direito do Largo de São Francisco traz uma enorme responsabilidade, especialmente frente aos mais vulneráveis, aos mais pobres, aos excluídos.

“Afinal de contas, como não acreditar no potencial dessa turma que simboliza a enorme revolução que se dá dentro da Faculdade, e extravasa para fora de seus muros? Como não acreditar na turma que, ciente das diferenças sociais existentes entre os colegas, não mediu esforços para que ninguém ficasse para trás e todos pudessem comemorar, com sua família e amigos, essa importante conquista que é a obtenção do grau universitário? Como não acreditar na turma que tem como Patronesse a querida Professora Eunice Prudente, exemplo para todos nós?”, enfatizou.

Por sua fala, o paraninfo da turma do período diurno, professor Bueno de Godoy, salientou a vitória dos formandos. “Parabéns pela conquista, que em dúvida os abaliza a tantas outras que virão, sempre pelo esforço, pelo comprometimento e pela dedicação – como até aqui demonstraram – mas ainda pela formação sólida, geral e plural que hora forma seu cabedal”, destacou.

Aplaudida, Eunice Prudente lembrou do compromisso e da preocupação da diretoria com a questão da equidade, mesma direção tomada pelo ex-diretor Floriano de Azevedo Marques Neto. “A Universidade de São Paulo alcançou já a meta de 50% dos alunos advindos das escolas públicas; e, também, os alunos negros e indígenas. Esse é um compromisso muito sério”, advertiu.

Da mesma forma a oradora da turma, Letícia Chagas, primeira presidente negra do Centro Acadêmico XI de Agosto, ressaltou o significado da luta pela inclusão. Mas asseverou a demora na aprovação do sistema de cotas dentro da USP. E lembrou a importância de ter outros acolhimentos aos alunos mais carentes. “Pra nós, estudantes cotistas, uma das maiores dificuldades foi encontrar um lugar para morar em uma cidade tão cara como a cidade de São Paulo. Por isso, a Casa dos Estudantes – moradia estudantil para estudantes de baixa renda – teve papel essencial na vida de muitos de nós”, afirmou.

O orador da Turma, Marcelo Beck, lembrou dos conselhos do ex-ministro e professor emérito da Casa Eros Grau, na aula magna de recepção aos alunos. “O professor disse de maneira categórica que a São Francisco não se tratava de uma faculdade de justiça, mas sim uma faculdade de Direito. Foi a primeira surpresa de muitos nós, calouros, esperançosos em mudarmos a sociedade que vivemos. Tivemos logo de assimilar que Direito e Justiça estão longe de ser sinônimos”, relatou.

Os professores Alexandre de Moraes (Direito Constitucional), ministro do Supremo Tribunal Federal e presidente do Tribunal Superior Eleitoral; e Cristiano Zanetti (Direito Civil) enviaram mensagens (em vídeo) aos formandos. “Esse momento não só é de importância extraordinária para vocês como também para seus pais. O momento é importante para o País e para a nossa Democracia. A colação representa muito mais do que o término de um curso de graduação. Representa o início de uma nova etapa em defesa da Justiça, da igualdade, da solidariedade e do fortalecimento do Estado Democrático de Direito. Sentimento que sempre marcou a história da SanFran”, disse. “Graças a vocês, a academia é mais justa, mais plural, mais brasileira”, acrescentou. Zanetti.

Victória Dandara Toth fez a leitura de compromissos pelos alunos. Mais um pioneirismo na instituição: foi a primeira travesti a fazer o juramento. As homenagens finais foram feitas pela aluna Lygia Helena Rossi da Silva e pelo estudante Paulo Takeo Sano.

 

Confira discurso completo do diretor Celso Campilongo

 

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