Cerimônia foi marcada por apresentações musicais, descerramento de placa e visita monitorada
Edição: Kaco Bovi
Ao som da Orquestra Locomotiva, na abertura, e de Trovas Acadêmicas cantadas pelos funcionários e presentes, no final das atividades, se deu o “Ato solene de inauguração de placa comemorativa do bicentenário da Biblioteca”, para comemorar os 200 anos de fundação da Biblioteca da Faculdade de Direito da USP (24/04). O Salão Nobre lotado, para uma noite histórica, pôde apreciar a execução de obras dos compositores Mozart e de Beethoven.
Na sequência, as falas do diretor da Faculdade, Celso Campilongo, da diretora da Biblioteca Maria Lúcia Beffa, do professor Maurício Zanoide, coordenador do projeto de restauro da Sala de Consulta; da presidente do Centro Acadêmico XI de Agosto, Julia Wong, do secretário de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência, Marcos da Costa; e do Secretário municipal de Mudanças Climáticas, José Renato Nalini, e da professora Marli Quadros Leite, pró-reitora de Cultura e Extensão da USP, deram tom à importância e ao significado do bicentenário.
Ao exaltar as comemorações, Maria Lúcia Beffa ressaltou: “Que momento vivemos hoje neste Salão Nobre, comemoramos os duzentos anos da Biblioteca”. A bibliotecária observou as palavras de Spencer Vampré, em 1925, no centenário da Biblioteca: “O dia de hoje pertence à história”, para fazer a referência ao bicentenário. Traçou um panorama histórico, lincando a Biblioteca à instalação dos Cursos Jurídicos.
Beffa lembrou o primeiro bibliotecário, D. José Antônio dos Reis, filho de pais pretos, órfão aos 12 anos, paupérrimo, que acabou acolhido pelo bispo D. Mateus de Abreu Pereira. “D. José estudou tornou-se professor de teologia e ingressou na primeira turma do curso de Direito de São Paulo, em 1828. No segundo ano foi escolhido e condecorado como melhor aluno da turma”, disse.
E salientou que, em 1827, com a criação dos cursos jurídicos, a biblioteca pública, com aproximadamente 5 mil volumes, foi incorporada à Academia de Direito de São Paulo. “São as obras dessa coleção conventual e a doação de 700 volumes do primeiro diretor no século XIX, e milhares de outras que se somaram durante estes 200 anos de existência da Biblioteca, que culminou num verdadeiro Patrimônio Bibliográfico precioso, que reúne a história do Brasil e do conhecimento jurídico”.”
A presidente do Centro Acadêmico, Julia Woang, apontou os desafios que têm e terão as(os) estudantes na manutenção e convívio na Biblioteca, especialmente por conta da tecnologia cada vez mais presente a tomar conta do mundo. ressaltou a importância da inclusão e da diversidade, citando que o primeiro bibliotecário da Faculdade.
“É raro encontrar bibliotecas com acervos tão extenso, tão vasto e tão interessante como se tem na Faculdade de Direito”, disse.
Sobre o mundo tecnológico fez o alerta acerca da inteligência artificial ter afastado as novas gerações dos livros físicos. “Portanto, tem afastado (e muito) o debate específico sobre a história do Brasil. E, nos 200 anos dessa faculdade, a história do Brasil é a Biblioteca”. Para ela, são as próximas gerações que precisam estar presentes.
Maurício Zanoide tem trabalhado para que esse ciclo de mudanças intensifique a importância da Biblioteca. Assinalou que quando uma instituição faz aniversário ela conta seu tempo de uma forma diferente. “Ela conta em centenário. Pensar no centenário é pensar no tempo passado. E, quando penso no passado, só posso fazer um agradecimento às milhares de pessoas que puderam ajudar a manter e oferecer essa biblioteca pública aberta todos os dias”.”
Nessa linha, destacou que a biblioteca é a guardiã de todo o conhecimento, onde outras milhares de pessoas preencheram – com seu tempo, sua dedicação –escrevendo livros e depositando cada um deles, com todo amor nas prateleiras da biblioteca.
De acordo com ele, a Biblioteca se caracteriza a cada momento por ser um acervo afetivo. Sempre foi feita por meio de doações, principalmente nos momentos mais difíceis do país, quando por razões políticas não se fornecia dinheiro para que o acervo bibliográfico crescesse. “E quanto mais isso se opunha ao crescimento da Faculdade, mais ainda as doações aumentavam historicamente”.”
Sobre renovação, aproveitou para apresentar o projeto que está em curso para dar entrada aos órgãos competentes pelo fato de todos os ambientes da Biblioteca serem tombados. “Precisamos fazer a renovação, o restauro com tecnologia e com modernidade para tornar aconchegante novamente os espaços da biblioteca”.”
Ao falar do prédio que está sendo construído, com uma extensão da Biblioteca, lembrou que o projeto teve início na gestão do ex-diretor Floriano de Azevedo Marques Neto.
Marcos da Costa se disse emocionado. “Esse é um momento muito importante da minha vida, pelo respeito e pelo carinho que tenho. Tenho muito orgulho de estar aqui. Coincidência ou não, uma solenidade que vem depois do Dia Mundial do Livro”, afirmou. E acrescentou que essas coincidências têm sempre de ser registadas: “Nos permite conhecer um pouco da cultura de tanta gente que construiu a história desse País”. Ao lembrar que, daqui a dois anos serão comemorados os 200 anos da instalação da Faculdade de Direito, a Biblioteca representa a grande evolução da sociedade brasileira.
O diretor Celso Campilongo ressaltou a necessidade de compor o passado e o futuro. E para dizer das necessidades atuais reforçou a dedicação e o empenho de todos para tornar a Biblioteca cada vez mais presente na vida da sociedade.
Para delinear a efeméride do bicentenário fez uma metáfora dizendo ser difícil distinguir o que é o cérebro de uma faculdade e o que é o coração. “Um palpite arriscado poderia ser aquele que dissesse que a sala de aula é o cérebro do ensino. É lá que os alunos aprendem a cultivar o Direito, recebe, as lições. Mas não tenho a menor dúvida que o coração, lugar de origem e nascimento dessa faculdade foi a biblioteca criada há 200 anos. Sem o coração, o cérebro não funcionaria. Muito obrigado aos bibliotecários, às todas as bibliotecárias e aos funcionários que fazem esse coração pulsar”.”
O diretor fez também uma referência, por meio de metáfora, aos 200 anos dos Cursos Jurídicos. “Há quem diga que a cabeça pensa aquilo que os pés pisam. É possível que seja verdade. Os pés que pisam nessa faculdade, pisam no único terreno brasileiro no qual se estuda, se cultiva, se ensina e se lê o Direito no Brasil. Agora, pisar nesse terreno significa fincar raízes profundas que repousam na biblioteca criada em 1825”.”
Por sua fala, Marli, que representou a Reitoria, citou alguns nomes que passaram pela Biblioteca. Dentre as quais Castro Alves, Ruy Barbosa, Monteiro Lobato. “Todos encontraram não apenas livros, aqui na Biblioteca, encontraram horizontes que alargaram suas vidas”, afirmou.
Por fim algumas homenagens, descerramento de placa e visita monitorada encerraram o evento.
Confira transmissão completa. Reverbere: https://www.youtube.com/live/8JJ83pYrN5g?si=EAf3q1Ku_bNbL7yY
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