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"Leiam, os livros criam histórias", diz Leandro Karnal em palestra no Largo de São Francisco, sobre literatura e vida

Escritor, professor e filósofo, Karnal foi diplomado membro da Academia de Letras da Faculdade de Direito da USP

 

Edição: Kaco Bovi

 

Os amantes da literatura, da cultura, das artes, do saber, pararam para aprender um pouco mais. A palestra de Leandro Karnal, novo membro da Academia de Letras da Faculdade de Direito da USP, tomou conta do Salão Nobre da FDUSP. Foi antecedido por declamações de poesias e apresentações musicais. Dentre as quais, músicas tocadas ao piano por Cassius Jansen Coelho da Silva.

Ao receber a honraria de ingressos na Academia, presidida por Vitor Basso, Karnal revelou o que estava sentindo. “Eu pego a primeira frase de ‘Paixão segundo GH’, de Clarice Lispector, para expressar o que eu sinto esta noite de novembro, aqui, no Largo de São Francisco, nessas históricas Arcadas”, acenou. Em seu sentimento acrescentou como base: “Estou tentando entender. Ainda não entendo, mas é incompreensão racional, vastidão emocional e a capacidade de olhar esta noite cheia, logo após o feriado do Dia da Consciência Negra, para que possamos continuar tentando entender este País complexo, esse País desafiador”.”

Adicionou mais um carinho pelas eternas Arcadas do Largo de São Francisco: “Nesse espaço, perto de completar 200 anos, instalado desde 1827, continua sendo cultivado nossas histórias”.

No discurso oficial fez um apanhado entre o passado e o presente, onde partiu da boa literatura à disseminação das redes sociais. “Destituído de bibliotecas, o não-leitor celebra cada post do Insta como genial e admira uma folha suada com uma luz inovadora. Penso que os clássicos são uma forma de fruir o tempo e não de passá-lo. A velhice de quem não lê é muito soltada. Livros ampliam nossa pequena experiência biográfica, constituindo-se um passaporte para o passado, compreensão do presente e exploração do futuro com esperança de utopias e riscos de distopias”, enfatizou.

Ponderou que os livros criam históricos e pessoas. “Sem a Bíblia não haveria as revoluções inglesas”. Citou que a melhor metáfora foi de um grande conservador, Xavier de Maistre, que publicou ‘Voyage Autour de ma Chambre’. “Diz o autor: ‘com um livro, você vai para onde desejar, com uma biblioteca, você não precisa retornar’”.

E questionou: “você já imaginou a diferença entre alguém que tenha analisado o Mercador de Veneza de Shakespeare ou a Divina Comédia de Dante, em uma sustentação oral no tribunal? Se este analista estiver ao lado de um ser vacinado pelo TikTok, será um choque da razão”.

Entre citações de vários livros, que elencou para seu discurso, num tom suave que resplandeceu no espaço do salão, relatou dados assustadores sobre a falta de leitura da população brasileira. De acordo com ele, a sexta edição da série Retratos da Leitura do Brasil traz imagem de queda devastada. Os dados apontam que 53% dos entrevistados não leram nem ao menos uma parte de uma obra nos três meses anteriores ao levantamento. Na mesma direção, 27% leram apenas um livro em 90 dias passados. A pesquisa de leitura inclui tanto livros físicos quanto digitais. “Os dados deste ano apresentam o maior total de não-leitores na série histórica do levantamento. São aterradores. Ler faz você ter contato com todos os tipos de pessoas. Leia!”, reforçou.

Compuseram a mesa, o presidente da Academia Paulista de Letras, Antonio Penteado Mendonça, que ressaltou a importância de também ter sido formado nas Arcadas; pela Academia de Letras da SanFran, Vitor Bassos (presidente), Derek Amaral, Alexandre Stevanato e Carolina Navega. Os trabalhos foram apresentados por Hellen Quad.

 

Por fim, Vitor Basso agradeceu a presença de todos e pelas doações recebidas para as.pessoas em situação de rua. "Nós também fizemos captação de doações solidárias de alimentos e vestimentas para, em conjunto com o SEFRAS (instituição de atendimento da IgrejadeSãoFrancisco), fazer uma distribuição para pessoas em situação de rua", disse.

 

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