O ventilador pulmonar do Projeto Inspire atingiu a marca do milésimo aparelho entregue. Desenvolvido pela Escola Politécnica e fabricado em parceria com a Marinha do Brasil, o mecanismo foi idealizado para ajudar no combate à pandemia da covid-19 e contou com a participação de diversas unidades da USP, no sentido de tornar o aparelho viável. Dentre às quais, teve a ação da Faculdade de Direito, cuja função foi dar apoio jurídico.
À época de seu desenvolvimento, os docentes trabalharam intensamente para proteger pesquisadores e instituições comprometidas com o projeto das responsabilidades jurídicas pela criação do produto. Ou seja, oferecem instrumentos assegurando que as empresas interessadas em acessar ao projeto (de patente aberta) – para fabricar e distribuir o equipamento – respeitassem as especificações e processos exigidos por lei, observando as normas regulatórias do setor.
O Projeto Inspire surgiu no começo da pandemia, em março de 2020, e representou um desafio para os pesquisadores e voluntários, porque o diferencial do protótipo era viabilizar um produto adequado e viável econômica e tecnicamente para a realidade brasileira.
Foi aprovado pela Anvisa e passou a ser produzido em parceria com a Marinha.
À época, participaram da força-tarefa jurídica, coordenada pelo diretor da FDUSP, professor Floriano de Azevedo Marques Neto, diversas áreas do Direito. Entre os docentes da FDUSP estão Otávio Rodrigues Júnior, Antônio Morato, Juliana Kruger, Carlos Portugal Gouvea, Marcos Perez, Ana Elisa Bechara.
Heleno Taveira Torres, que também esteve envolvido com a obtenção de doações do setor privado para o desenvolvimento, além de auxiliar nas questões jurídicas e tributárias, compareceu à cerimônia, ao lado do professor Ignácio Maria Poveda Velasco; com a presença do reitor da USP, Vahan Agopyan, entre outros professores da Universidade. "Foi um ano inteiro de muita dedicação e trabalho", assinalou Torres.
Do projeto
Especialista em Engenharia Biomédica, o professor Raul González Lima foi o idealizador do aparelho. De acordo com ele, foram 20 anos de pesquisas em monitoramento de pulmão desenvolvido em conjunto pela Poli e pela Faculdade de Medicina da USP.
"Todo esse período da pandemia nos revelou que não é bom depender excessivamente de outros países, que algumas tecnologias têm de ser dominadas dentro do nosso país, e que o desenvolvimento delas é extremamente multidisciplinar", disse, em entrevista ao Portal G1.
Um dos maiores trunfos do equipamento foi a utilização de tecnologia e componentes majoritariamente nacionais, provenientes das indústrias automotiva, robótica, aeronáutica e da saúde, que permitiram a rapidez da produção e um custo menor em relação aos outros aparelhos disponíveis no mercado.
Não se pode comprar, nem vender o Inspire. O que é possível é licenciar a tecnologia com geração de royalties para a universidade, que permitiria o financiamento de outras pesquisas do tipo.
De acordo com ele, o objetivo adiante é que o Inspire deixe de ser um ventilador emergencial e se torne um modelo mais robusto, com mais modos ventilatórios.