A Escadaria é em si mesma um bem a preservar. É monumental por sua forma e dimensões e pelo material nobre de que se constitui, o mármore. Se o mármore vincula-se à arquitetura monumental de forma geral, no caso da Faculdade de Direito, foi este trazido de Portugal, fazendo parte, assim, do repertório da “arte tradicional brasileira” defendida pelo arquiteto Ricardo Severo, em sintonia com os ideais do Diretor Alcântara Machado. E se outras escadarias monumentais existentes em São Paulo, como a do Museu Paulista (Museu do Ipiranga), foram construídas com o mármore branco de Carrara, na Itália, a Escadaria da Faculdade de Direito tem um tom amarelo, típico do mármore português. A Escadaria, bem como outros elementos constitutivos da construção, serão tratados mais pormenorizadamente conforme avancem as pesquisas sobre o edifício.
Quanto aos vitrais que se distribuem ao longo da Escadaria, foram instalados em 1938, ano em que a construção do novo edifício da Faculdade de Direito foi encerrada em sua maior parte, embora ainda faltasse terminar o 3º andar, cujas obras só foram retomadas em 1941. O ano de 1938 foi também o último da gestão de Francisco Morato como diretor da Faculdade. A ele se deve a orientação do projeto dos vitrais, cuja execução foi confiada à Casa Conrado, uma empresa especializada em vitrais artísticos, responsável por conjuntos dessa natureza instalados em outros edifícios em São Paulo, no mesmo período.
Foram transpostas para a arte dos vitrais, três pinturas de grandes dimensões pertencentes ao Museu Paulista e relacionadas a marcos da História do Brasil, realizadas por alguns dos maiores artistas brasileiros da passagem do século XIX para o XX: Independência ou Morte, de Pedro Américo; A Fundação de São Paulo, de Oscar Pereira da Silva; A partida das Monções, de Almeida Junior. Figuras femininas pintadas no Vaticano por Rafael, nos primeiros anos do século XVI, integrantes dos afrescos existentes na Stanza della Segnatura (Biblioteca do Papa Julio II), foram escolhidas para representar, nos vitrais da Faculdade, valores fundamentais ao exercício do Direito: A Filosofia, a Justiça, a Força e a Temperança. Outras duas cenas criadas nos vitrais remetem à Faculdade de Direito e ao Largo de São Francisco no século XIX, assim como ao Pátio do Colégio no mesmo período.
“Vitrais elaborados a partir das obras citadas, compõem a sequência de imagens da Escadaria da Faculdade de Direito (...) aqui a tônica é posta no Direito e na Justiça, com berço em São Paulo, como fundamento para a independência e o nascimento da nação. (...)
Na sequência dos pavimentos, encontra-se ao alto, no terceiro andar, como que regendo todo o conjunto, a Lei das XII Tábuas [que é o brasão da Faculdade], base primeira do Jus Romanus, ladeada pela Força (à esquerda) e pela Temperança (à direita), representando o próprio Direito.
No segundo andar, a proclamação da Independência, no Ipiranga, ato de bravura em solo paulista, símbolo do nascimento da nação.
No primeiro andar, A Fundação de São Paulo está ao centro. De um lado, o Pátio do Colégio, no século XIX (...), quando nele estava o Palácio do Governo, representando a capital administrativa e política. De outro, A Partida das monções, representando a conquista do território. É o tríptico da gênese paulista.
No térreo, a imagem do antigo convento ao lado das igrejas franciscanas, memória do próprio edifício demolido. Também está situado no século XIX, isto é, no período em que o convento abrigava já a Academia de Direito. À sua esquerda e à sua direita, respectivamente, as alegorias da Filosofia e da Justiça completam o tríptico representativo do fundamento do pensamento jurídico que sustenta a nação.
Se por um lado, a alegoria afirma valores nacionais, por outro, a utilização de imagens de Rafael, evoca o humanismo renascentista e o culto aos valores universais (...) sem os quais o Direito não pode ser exercido. ...”
