Novos dirigentes terão o desafio de conduzir a mais importante instituição de ensino jurídico do país e prepará-la para as comemorações do bicentenário
Responsabilidade e emoção marcaram a posse de Celso Fernandes Campilongo e Ana Elisa Bechara, diretor e vice-diretora da Faculdade de Direito da USP, na noite de quinta-feira (21/02). A cerimônia (transmitida pelo Canal do YouTube da FDUSP), foi recheada pelos desafios que os novos dirigentes terão para conduzir as demandas da instituição nos próximos quatro anos. Contarão para isso com um legado positivo, deixado pelo diretor-cessante Floriano de Azevedo Marques Neto.
Defesa da democracia, inclusão, novos passos no sentido de ajudar a permanência dos alunos, especialmente os cotistas, e a infraestrutura tomaram conta do Salão Nobre, com autoridades, professores e convidados (de forma restrita por conta da pandemia de covid-19). Ao lado de Campilongo, Ana Elisa e Marques Neto, compuseram a mesa o Reitor da USP, Carlos Gilberto Cartotti, Maria Arminda, vice-reitora, e Marina Helena Gallottini, Secretária-Geral da USP.
“Não existe, no imenso território nacional, nenhum espaço físico, nenhum terreno, nenhum solo que, como este, há exatos 195 anos ininterruptos, mesmo durante guerras e pandemias, se dedique, exclusivamente, ao ensino do Direito”, afirmou Campilongo.
Carlotti, por sua fala, elogiou a gestão de Marques Neto. “Ele viu nas dificuldades, oportunidades”, disse. Elencou avanços na Graduação e na Pós-Graduação e o papel externo. Por fim, destacou: “Está entregando a Faculdade em boas mãos”, assinalou. Para acrescentar: “A comunidade acadêmica sabe escolher seus dirigentes para o momento correto e souberam escolher os professores Campilongo e Ana Elisa”.
Adicionou também a importância de os novos dirigentes assumirem a Casa com o sentido de trabalhar o presente e com o olhar para a futuro. “Vocês podem contar com todo o apoio da Reitoria”, afirmou.
Entre as realizações ao longo dos próximos quatro anos, elencou a responsabilidade por suceder “gestão tão exitosa da Faculdade como foi a do professor Floriano, de quem tive a honra de ser o vice-diretor”. “Floriano lançou bases muito sólidas para a remodelação da Faculdade. A responsabilidade da nova diretoria é dobrada: não perder o ritmo impressionante de conquistas dos últimos anos, dar continuidade a elas e tentar, ao mesmo tempo, acrescentar contribuições”, acrescentou.
Ainda sob o peso de conduzir instituição de tamanha grandeza, ressalto: “Este espaço, estas paredes e nosso pátio de pedras são únicos. Aqui reside boa parte da história do Brasil e, por isso mesmo, só faz aumentar o peso da responsabilidade”.
Ao saudar presentes e expectadores, o Decano da Faculdade de Direito da USP, professor José Eduardo Faria, ressaltou a histórica da SanFran, criada em 1827, estando a cinco anos de seu bicentenário. “Esta casa sempre deu um sentido específico à ideia de instituição. Ela a vê como um mecanismo de organização e criação de ideais e aspirações coletivas”, enfatizou. “Assim, essa escola assumiu como diretrizes a defesa dos direitos democráticos.”
“Se a postura de defesa das garantias e da democracia foi importante nos três anos finais da gestão do professor Floriano, ela será fundamental na gestão do professor Campilongo”, acrescentou. E asseverou: “Ele assume a diretoria em um período de inconsequente polarização ideológica, de ênfase irresponsável a discursos de ódio, de abjeta negação à ciência, de inadmissível afronta à Justiça, de repugnantes tentativas de supressão das liberdades fundamentais”.
Na mesma direção de defesa da democracia, Campilongo lembrou que o momento atual deixa a forte sensação de que o direito e as instituições jurídicas assumem papel de muito destaque não apenas pela democracia, mas na construção dos modelos de inclusão social e de preparação do Brasil para os novos tempos. “Os embates entre elitismo e igualitarismo, ou, noutra variante – termo da moda, infelizmente – entre autoritarismo e democracia, aparecem também no Judiciário. Isso explica, mas não justifica tanto os sistemáticos e afrontosos ataques ao Supremo Tribunal Federal quanto a violência miliciana, física e digital, contra mulheres, negros e homossexuais, para não falar nas violências e assimetrias de classe”, acrescentou.
Fez ainda o alerta de que o panorama nacional do ensino jurídico é melancólico. “A esmagadora maioria das Escolas de Direito não é capaz de aprovar sequer 20% de seus egressos no Exame de Ordem”, ressaltou. “Salvo raríssimas exceções, apenas as Faculdades de Direito das Universidades Públicas têm realizado esforços dignos de encômios”.
Por fim, ressaltou o investimento da instituição no aprimoramento de seus alunos, por meio dos grupos de Pesquisa e de Extensão. Falou também da multiplicidade de programas concebidos e desenvolvidos na gestão do Professor Floriano, como “Adote uma Sala”, “Adote um aluno”, “Incluir Direito”, “Casa do Estudante”. E, mais recentemente, o Fundo Patrimonial Sempre Sanfran. Para os eventos, finalizou enaltecendo Semana de Arte de 1922, que completou centenário, tendo entre seus pensadores o antigo aluno das Arcadas Oswald de Andrade.
Entre os presentes externos, estiveram Mario Luiz Sarrubo, Walter Piva Rodrigues, professor da Casa e desembargador no TJ-SP, representando o presidente do Tribunal. Entre tantos que acompanharam de forma remota, o ministro do Supremo Tribunal Federal Ricardo Lewandowski e a secretária municipal de Justiça, de São Paulo, Eunice Prudente. A solenidade foi completa com a maioria dos 150 professores da FDUSP.
| Confira íntegra do discurso do professor Celso Campilongo
Confira a cerimônia completa no Canal do YouTube da FDUSP